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Dois mapas de batalhas entre Portugal e Espanha: 1580-1644

2 dezembro 2020 | by mbaptista | categories : Cartografia, Iconografia

A BNP conserva nas suas coleções um conjunto significativo de mapas e planos de batalhas, nos quais se incluem dois documentos, considerados únicos, designadamente da Batalha de Alcântara (manuscrito), que ditou a perda de independência de Portugal em 1580, e da Batalha de Montijo (impresso), que em 1644 foi determinante na consolidação da restauração da independência.

Portraict du sitie et ordre de La bataillePortraict du sitie et ordre de La bataille donnee entre Le sr. don 
Antonio nommé roy de portugal et Le duc dalbe Lieutenant et
capp.ne general du Roy cath. Don philippe 2º deuant Lisbonne
par mer et par terre en un mesme jour Le 25. d’ aoust 1580.
[1580?]. 1 Plano de batalha : manuscrito, pena a sépia e
aguadas a sépia e bistre sobre papel ; 44×58 cm, colado em
suporte de cartão prensado: 49,4×64 cm

[BNP D. 319 A., http://purl.pt/1237 ]

O Plano da Batalha de Alcântara, entre Portugal (sob o comando de D. António Prior do Crato, aclamado Rei de Portugal) e Espanha (com tropas sob o comando do Duque de Alba, em representação de Filipe II, Rei de Espanha), representa a disposição dos dois exércitos e das forças navais inseridos no local do confronto.

A representação está elaborada a partir de Monsanto, tendo como centro a Ribeira de Alcântara, que divide as forças em presença; no lado esquerdo do plano (que se estende até o antigo Convento de São Vicente de Fora) as forças portuguesas e no lado direito (que se estende até ao Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém) o exército de Filipe II. O plano abrange a representação do Tejo com as armadas em confronto, no mesmo posicionamento, prolongando-se em fundo até à margem sul, com a representação do Castelo de Palmela (que menciona a distância de cinco léguas de Lisboa) e Almada. Este documento foi, provavelmente, elaborado a pedido de Filipe II e evidencia a esmagadora superioridade do exército e da armada de Espanha. Esta batalha, tal como se previa, ficou resolvida em poucas horas, com uma inequívoca vitória de Espanha, e representou o culminar de todas as conquistas anteriores, desde o Alentejo até Setúbal, afastando definitivamente as pretensões de independência de Portugal e unindo as duas coroas até 1640.

Carta da fronteira entre o Alentejo e a Estremadura espanholaALBERNAZ, João Teixeira, I, fl. 1602-1649
[Carta da fronteira entre o Alentejo e a Estremadura espanhola]
/ [João Teixeira Albernaz, I]; L[ucas] V[orsterman].
– Escala [ca 1:370000]]. – [S.l.: s.n., 1646].
– 1 mapa: gravura, p&b; 44,10×59,75 cm

[BNP: C.C. 254 A., http://purl.pt/918 ]

O mapa representa a Batalha de Montijo, que ocorreu na região da província espanhola com o mesmo nome, travada em 26 de Maio de 1644, entre os exércitos portugueses, comandados por Matias de Albuquerque e os exércitos espanhóis, comandados pelo Marquês de Torrecuso.

Embora se trate de um documento impresso é o único exemplar conhecido, encontra-se datado de cerca de 1646 e está atribuído a João Teixeira Albernaz I.

Na margem superior direita o documento inclui uma dedicatória a Lourenço Skÿtte, que permaneceu na corte portuguesa, na qualidade de representante da Suécia, país aliado de Portugal que integrou a coligação antiespanhola. Apresenta uma escala de cerca de 1:370 000 e está orientado com o leste na parte superior, ou seja “contra a fronteira”.

O mapa tem como centro da representação Elvas e Badajoz, abrange uma parte significativa da província do Alentejo (numa linha que se estende de Abrantes a Serpa até à demarcação da linha de fronteira) e a parte correspondente da Estremadura espanhola (de Cáceres a Zafra). Na parte superior do mapa insere-se a representação dos exércitos em confronto, junto às localidades do Montijo e de Villar del Rey, nas proximidades das margens do Rio Guadiana, entre Mérida e Badajoz.

Este documento apresenta-se como uma narrativa dos vencedores com símbolos para as «Villas queimadas en Castella» e para as «Villas tomadas en Castella» que estão largamente assinaladas no mapa.

Esta batalha inseriu-se no conjunto de conflitos armados que tiveram lugar no âmbito da Guerra da Restauração, iniciada com a revolução de 1 de Dezembro de 1640 e terminada com a assinatura do Tratado de Lisboa, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, que reconheceu a restauração da independência de Portugal, em 13 de Fevereiro de 1668.