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Teoria e prática na arquitetura naval: o Livro da Fábrica das Naus

19 fevereiro 2020 | by mbaptista | categories : Manuscritos

O manuscrito – original, autógrafo – intitulado Liuro da Fabrica das Naos, de Fernando (ou Fernão) de Oliveira (1507-1581) pertencente à Coleção de Códices da BNP, representa um dos testemunhos escritos de maior relevância no desenvolvimento da arquitetura e construção naval, componentes decisivas para a prossecução dos descobrimentos marítimos portugueses no século XVI.

Composta por volta de 1580, esta obra marca a evolução da arte da construção naval, até então restrita ao universo da prática dos mestres e marinheiros. Ao longo dos nove capítulos e prólogo que constituem este Tratado, Fernando de Oliveira teoriza sobre a atualidade das matérias, e explica, com rigor científico e clareza de termos, a finalidade das técnicas. E os cálculos e as regras que estabelece, aplicam-se tanto à construção navios de pequena tonelagem como às naus da carreira da Índia.

O autor, que se dedicou ao estudo de assuntos aparentemente tão diversos como a filologia, a gramática portuguesa e a teoria da guerra naval, foi também piloto de galés (na década de 1540, ao serviço de Francisco I de França), e cartógrafo. As duas obras impressas ainda durante a sua vida, a Grammatica da lingoagem portuguesa, (1536) e a Arte da guerra do mar (1555) demonstram a amplitude de interesses e a solidez dos seus conhecimentos, nomeadamente relacionados com a terminologia técnica utilizada.

O Liuro da Fabrica das Naos é o mais antigo, completo e inovador tratado ibérico sobre construção naval e foi dedicado ao Rei D. Sebastião. Fazia parte da Livraria do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Ordem de Cister) e foi integrado na Biblioteca Nacional após 1834, no decurso da extinção das ordens religiosas e subsequente incorporação dos bens da Igreja na Fazenda Pública. 

«... das madeiras convenientes pera a fabrica das naos»: trata-se neste e no terceiro capítulo do tipo de madeiras e respetiva aplicação nas diferentes partes do navio, essencialmente o sobro, para a estrutura (o esqueleto do navio), e o pinho, mais brando, para o tabuado.

Distinções dos vários tipos de navio: «…de quantos generos e maneiras de navios há na arte da navegação: e dos nomes deles», a saber: nau, galé, galeão, galeaça, caravela, explicando a origem e significado de cada uma das categorias.

Pormenor do capítulo 8.º - «Figura da quilha, altura e largura da nau, medidas por rumos e palmos»

Figura desdobrável representando o fundo do navio, sem popa nem proa.