O manuscrito – original, autógrafo – intitulado Liuro da Fabrica das Naos, de Fernando (ou Fernão) de Oliveira (1507-1581) pertencente à Coleção de Códices da BNP, representa um dos testemunhos escritos de maior relevância no desenvolvimento da arquitetura e construção naval, componentes decisivas para a prossecução dos descobrimentos marítimos portugueses no século XVI.
Composta por volta de 1580, esta obra marca a evolução da arte da construção naval, até então restrita ao universo da prática dos mestres e marinheiros. Ao longo dos nove capítulos e prólogo que constituem este Tratado, Fernando de Oliveira teoriza sobre a atualidade das matérias, e explica, com rigor científico e clareza de termos, a finalidade das técnicas. E os cálculos e as regras que estabelece, aplicam-se tanto à construção navios de pequena tonelagem como às naus da carreira da Índia.
O autor, que se dedicou ao estudo de assuntos aparentemente tão diversos como a filologia, a gramática portuguesa e a teoria da guerra naval, foi também piloto de galés (na década de 1540, ao serviço de Francisco I de França), e cartógrafo. As duas obras impressas ainda durante a sua vida, a Grammatica da lingoagem portuguesa, (1536) e a Arte da guerra do mar (1555) demonstram a amplitude de interesses e a solidez dos seus conhecimentos, nomeadamente relacionados com a terminologia técnica utilizada.
O Liuro da Fabrica das Naos é o mais antigo, completo e inovador tratado ibérico sobre construção naval e foi dedicado ao Rei D. Sebastião. Fazia parte da Livraria do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Ordem de Cister) e foi integrado na Biblioteca Nacional após 1834, no decurso da extinção das ordens religiosas e subsequente incorporação dos bens da Igreja na Fazenda Pública.